quarta-feira, 27 de junho de 2007

recomeço

Depois de mais de um ano, forçada por uma idéia de disciplina, volto a postar. Ainda que ninguém tenha anunciado a falta.

Enquanto esperava meu almoço, li a resenha assinada por Humberto Eco, publicada no
Nouvel Observateur que está nas bancas, sobre um livro intitulado Dicionário amoroso de Nápoles. Ainda que o texto esteja disponível na Internet, preferi gastar, comprando a edição em papel. O fetiche da palavra impressa, bem diagramada e com a ilustração. Esse encanto da palavra sobre o suporte físico dá até margem a outros debates, entre eles aquele que teve lugar (será que ainda continua?) no Digestivo Cultural. Nele, a grande questão é a seguinte: com as facilidades de tornar-se público através de blogosfera (blogoseira, no dizer do Hermenauta, meu padrinho virtual bem no meu início) porque os estreantes ainda insistem em editar suas obras no formato tradicional? Mas, o importante não é isso.

O importante é meu prazer infinito de ler sobre Nápoles e lembrar-me de todas as sincronicidades nos últimos dois anos que me têm ligado a essa cidade, aquele paraíso habitado por demônios, como querem alguns. O livro sobre o qual trabalho no momento tem sua personagem central vivendo no Brasil, embora nascida em Nápoles. Uma Nápoles reinventada, oitocentista, perfumada a flor de limão, laranjeira e mirto. Só coisas muito especiais podem ser esperadas de uma cidade fundada em cima no túmulo de uma sereia.

Pois é, Nápoles teve início sobre a pedra tumular da sereia Partenope, aquela que diante do insucesso em conquistar Ulisses preferiu o suicídio, jogando-se no mar. E o silêncio da sereia, como já observaram Kafka e Blanchot, seduz mais do que seu canto.

Estive duas vezes em Nápoles e nunca imaginei que um dia iria escrever sobre a cidade. Hoje, puxo muito pela memória, auxiliada por fotos, mapas e guias. O que não me esqueço foi minha primeira vez no Teatro San Carlo, a noite em que me senti mais chique e bonita em toda a minha vida.

Debaixo dos eflúvios encantados do Vesúvio, até esqueci de repetir minha proposta quando iniciei meu blog
As netas da Ema, e que são renovadas aqui, em sua segunda encarnação. Por que não afilhadas de Ana (em alusão à Karenina). Isso é uma outra história, para amanhã. A lembrança da beleza do golfo napolitano roubou-me toda energia, seqüestrou minha imaginação. Logo hoje, em que prometi para mim mesma que iria recomeçar a postar.