sexta-feira, 4 de julho de 2008

Margaret Atwood: ninguém comentou

Margareth Atwood, uma de minhas escritoras favoritas, venceu o Prêmio Príncipe das Astúrias deste ano. Concorreu com ninguém menos que Ian McEwan (Reparação, Sábado, Na Praia), um dos autores que mais aprecio. Mas ela levou. Pergunto-me a razão de tanta parcimônia nas notícias e comentárioso.Li este http://www.estadao.com.br/arteelazer/not_art195718,0.htm,

mais este http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL613180-7084,00.html, ambos contando mais ou menos a mesma história, inclusive fazendo uso de termos semelhantes.


Atwood foi cogitada para o Nobel no ano passado, quando da concessão do prêmio a Doris Lessing. Em comum: as duas têm obra extensa, exploraram a um certo momento a ficção científica, que até hoje carrega um certo estigma de desprezo da crítica (e não sei bem o porquê) e são defensoras ativas dos direitos humanos. Li as duas e, peço desculpas à eventual heresia, prefiro aquela primeira. É mais escritora do que esta segunda. Reli o Carnê dourado no ano passado, assim que soube do Nobel concedido à Lessing. Apesar de trechos muito interessantes, é um livro desigual e, mil perdões,datado e super estimado.



Até hoje guardo a emoção que tive durante a leitura de Madame Oráculo, em 1984, meu primeiro Atwood (e, como ensinou Washington Olivetto, o primeiro a gente nunca esquece). Um flirt com os romances góticos-eróticos, com labirintos, belos tenebrosos, espelhos, escrita automática, mistério e indagação. Foi indicação de um professor de inglês maravilhoso que eu tive, o Peter Price. Depois veio A mulher comestível, Surfacing, até que surgiu Os contos da Aia, seu primeiro best-seller aqui no Brasil. Este foi o que menos gostei.


Vieram, na seqüência, A noiva ladra, Alias Grace, The blind assassin, e Negociando com a Morte. O primeiro, li por volta de 1995 e o considerei o melhor livro do ano. O segundo não me entusiasmou muito, mas O assassino cego tirou-me o sono durante uma viagem de navio. E no último, ao discutir o processo da escrita, Ms. Atwood se superou.


Adoro saber o que os escritores acham do ato de escrever. E as reflexões desta escritora inglesa são ímpares. Para ela, escrever é negociar com a morte. O escritor desce aos infernos, ao reino de Hades, e dele retorna com sua escrita. Muitos descem, poucos sobem. Lembrar-se do que viu e saber contar depois que subiu é que é o "x" da questão.



Li e reli no trajeto São Paulo-Curitiba, tantas vezes trilhado no segundo semestre de 2006, quando fazia minha oficina de criação com o José Castello. Como já mencionei em um post anterior, saía de SP por volta do meio dia das quintas, chegava em Curitiba quase às 18:30. A oficina começava às 19:00, ia até as 10. Voltava para rodoviária, pegava o ônibus das 23:30 e chegava em casa antes das 6 da manha de sexta-feira. Aguentei isso por três meses. Mas acredito que passei a entender um pouco melhor a natureza de um conto.


Nunca diria, por exemplo, o que a Nélida Piñon disse no dia 1 de julho passado, quando da entrega do Prêmio SESC Literatura, edição 2007. Contaram-me que ela afirmou que os contos são rascunhos de livros a serem escritos. Por Diós! As praias são tão diferentes. Anyway, ela deve saber o que fala porque presidiu a Academia Brasileira de Letras e eu, pobre marqueza, aqui estou em São Paulo, passando frio, escrevendo para um blog que ninguém lê e imaginando a Festa em Paraty.

By the way, Margareth Atwood esteve na FLIP de Parati em 2001 . Como gostaria de ter ido lá ou de estar hoje lá. E Margareth, quando jovem, foi linda, magra, com uma vastíssima cabeleira fulva, nariz adunco, semelhante a uma figura pré-rafaelita. Eu também gostaria de ter um rosto mais anguloso, não tão harmônico e redondinho. A eterna insatisfação feminina.


3 comentários:

Unknown disse...

Cara Eugenia, estou lendo seu blog e adorando. Meu marido também aprecia Atwood. Eu, lutando para superar a fase workaholic, deixo as indicações de meu marido na estante. Seu post me deu vontade de voltar a ler literatura. A propósito, achei seu blog via LinkedIn. Quando estagiária na biblioteca de DIN/DTB da São Francisco, há mais de 10 anos, creio que a conheci. O mundo dá voltas, e adorei este reencontro. Abraço cordial ^-^

Alexandre Kovacs disse...

Discordo da sua afirmação de que ninguém lê este blog. Ah sim, também perdi a FLIP 2008.

Henrique Wagner disse...

Eugenia, estou completamente apaixonado pela sua escrita. Li sua carta a Daniel Piza e foi amor à primeira vista (ainda bem que uso óculos).
Gostaria de ler seu romance premiado. Moro onde nasci: Salvador, Bahia. Escrevo para um site e alguns jornais. Gostaria de resenhar e apresentar seu livro aos baianos.
Abraço de um admirador...
e-mail: henriquepwagner@hotmail.com